sexta-feira, 10 de abril de 2009

Hoje é Xejta-Feira Xanta

 

Pojt 0058 001 Hoje é Xejta-Feira Xanta

Poij nem xei bem por onde hei-de comexar!

A Pájcoa xempre foi, para mim, uma época de xentimentoj contraditórioj, porque à alegria daj grandej ocajiõej fejtibaj xe xomabam doij ou trêj diaj ejtranhoj, muito ejtranhoj.

Quando comexei a perxeber que era uma pexoa, já tinha lebado, como todoj nój, oj da mejma idade e credo, xuponho, uma injequexão chamada catequeje em que noj eram enxinadoj, por ejemplo, oj pecadoj capitaij, oj pecadoj beniaij e aj birtudej teologaij, bem como aj obraj de mijericórdia e aj bem-abenturanxaj, que tínhamoj de xaber papaguear xem o mínimo dejlije ou hejitaxão, quando xobre tal éramoj inquiridoj peloj grandej ou, terror doj terrorej, por algum reprejentante do clero.

Menoj mal que fui catequijado por uma xanta freirinha, a Irmã Bom-Pajtor (xempre me fêj ejpéxie como é que uma xenhora tinha um tal nome…) que, talbej como prémio da minha aplicaxão ou – parexe-me maij realijta – porque num xabia o que habia de fajer-lhej, me prejenteaba, bolta num bolta, com xacoj de aparaj de hójtiaj que eu deboraba delixiado, até ficar opado (dijpenxando, muitaj bejej o jantar, para grande arrelia doj xantoj doj meuj abój).

E xim, apendi que Crijto morreu para remixão doj pecadoj doj homenj – de todoj oj homenj e de todoj oj pecadoj – no meio de um xofrimento atroj e de uma tremenda injujtixa. Um bocadinho à laia daquelej filmej em que o bom da fita xofre imenxo – com todoj oj ejpéquetadorej que ejtão a axijtir à fita a mexerem-xe conjtantemente naj rejpéquetibaj cadeiraj e a xujterem gritoj de abijo que, como é óbebio, apenaj baleriam de unguento ao xofrimento doj próprioj (tal como a bida, para oj determinijtaj, também aj fitaj que paxam noj animatógrafoj já têm o final dexidido!).

Hoje em dia, a minha fé é algo de dejujado: xou um incréu maj, no fundo, gojtaba de o não xer. Num xei bem ejplicar maj também num bem ao cajo.

O que queria, com ejte longo arrajoado (já boj ouxo: – Maij um, Caro Xívico, maij um…, xe é que o caro xe aplica…) era recordar aj Pájcoaj da minha infânxia, dejde a Quinta-Feira Xanta – aj cerimóniaj comexabam ao cair da tarde com o laba-péj (todoj tínhamoj de axijtir, claro) e terminabam com o jantar de Domingo de Pájcoa em que, tal como à hora de almoxo, xe juntaba toda  família.

Durante a xemana tínhamoj de noj ir confexar e lá binham oj grabíximoj pecadoj: – Arreliei a minha Mãe, dei uma bijca no meu primo, menti à Xenhora Profexora xobre oj trabalhoj de caja. O que é xerto é que xaía dali purificado, pronto para cometer outroj enormej pecadoj, depoij de ter dito,ao Confexor, o Áqueto de Contrixão (tinha de o decorar todoj oj anoj e ainda hoje não o xei…) e de ter rejado, já xójinho, unj quantoj Padrej-Noxoj e ainda umaj Abé-Mariaj.

Na Quinta-Feira Xanta, axijtíamoj à xerimónia do Laba-Péj e depoij de jantar, tínhamoj lixenxa de xair para ir ber a proxixão nocturna (a Proxixão da Trajladaxão do Xantíximo), depoij da Mixa da Xeia do Xenhor.

Xejta-Feira Xanta é dia de abjtinênxia e nem nój, a canalha, ejtábamoj autorijadoj a comer carne. Aj Xenhoraj bejtiam-xe de luto carregado e a partir daj trêj da tarde iam bijitar aj Igrejaj, em grupinhoj onde a negritude era tamanha que fajiam lembrar bandoj de corboj (que aj que ainda xão bibaj num me ouxam, ou melhor, num me leiam…).

À noite, noba proxixão: a do Crijto Morto. Lá íamoj todoj para a ber paxar, xempre ao xom da Marcha Fúnebre de Xôpã, axaxinada pela banda de mújica lá da terra (a Menina Tereja xabe lá o que xão crimej contra a mújica, xabe lá!) maj que noj punha a todoj de lágrima ao canto do olho, xobretudo quando noj ajoelhábamoj à paxagem da imagem do cadáber de Noxo Xenhor Jejuj Crijto. Era uma ejperiênxia traumática maj como éramoj todoj a bibê-la, num xe daba muito por ixo!

O Xábado de Aleluia paxaba xem fáquetoj dignoj de nota a não xer quando, no termo da infânxia, já noj era permitido ir axijtir à Bigília Pajcal e à Mixa de Aleluia! Debo confexar (e confexei a bárioj Padrej noj anoj xeguintej) que raramente axijtíamoj: ficábamoj era cá fora a dijer loaj e, oj que já fumabam, a fumar xigarritoj (Kentucky já xe bê ou, xe já tínhamoj rexebido aj amêndoaj doj padrinhoj, Negritoj, que xabiam a chocolate).

O Domingo era de grandej comejainaj – cabrito ao almoxo e ao jantar, xempre com maij unj miminhoj pelo meio, de que abultabam aj amêndoaj (franxejaj e torradaj, que todaj aj outraj que por agora aí há num paxam de modernixej).

À tarde rexebia-xe o Compaxo: o Xenhor Prior andaba pelaj cajaj a abenxoá-laj e cada caja ejmeraba-xe em ter pojta uma meja farta, num foxe o Xenhor Prior ejtar com um ratinho no ejtômago ou ter uma crije de hipoglixemia). Bom, bom, era a xeguir, quando o Xenhor Prior xe ia embora e dejaparexia ao fundo da rua, poij era dada ordem de ataque aoj rejtoj (que de rejtoj apenaj tinham o nome, porque, muitaj bejej, o Xenhor Prior nem tocaba na meja). Era, berdadeiramente, um fartar bilanagem! Eram oj folarej, maij aj amêndoaj, maij oj pajteijinhoj de gila, maij oj doxinhoj de amêndoa, maij o bolo de noj, eu xei lá (na berdade, atendendo ao dia que é, nem debia de ejtar a falar nejte axunto…).

Antej do jantar, ainda habia tempo para irmoj jogar ao caneco: juntabam-xe em todaj aj cajaj de familiarej e amigoj aj pexaj de louxa ou de xerâmica rachadaj ou ejbotenadaj e ia-xe para a rua onde, com taij pexaj como bola, xe fajia uma ejpéxie de paxej de andebol. Quando caíam ao chão, ejtá claro que xe partiam: fajia-xe grande fejta e ríamo-noj muito (a ejta dijtânxia, num bejo que graxa poxa tal jogo ter, maj lá que noj dibertíamoj, lá ixo dibertíamoj…).

E prontoj (eu xei, Menina Tereja, eu xei, maj é um regionalijmo que bai aqui muito bem…)! Era axim a Pájcoa da minha infânxia.

Que Deuj Noxo Xenhor, o Xeu Filho, o Ejpírito Xanto e toda a Corte Xelejtial abenxoem a boxa Pájcoa!

(Eh eh eh! Agora parexia o Reberendo Padre Egas Baj, que nunca maij deu notíxiaj! Oxalá o terremoto o num tenha lebado de entre nój!)

Xaudojoj e rejpeitojoj cumprimentoj do
Xívico Anacleto, o boxo guarda predilecto!

Sem comentários: